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Próximo destino: aborrecimento

  • Writer: Tiago Franco
    Tiago Franco
  • Jun 4, 2019
  • 3 min read

“O que é que mudou em ti?” – a derradeira pergunta. Passaram-se 5 meses e ainda não tenho nenhuma resposta concreta para isto. Consigo dar meias-respostas, com frases bonitas e sentimentos bons. Penso que se não mudar em nada nesta viagem, então tudo não passou de um capricho de quem estava indeciso na vida. E tudo isto me está a fazer duvidar das decisões que fui tomando, que estou a tomar e do futuro que se aproxima.


Estou agora no Laos e, sinceramente, estava com tantas expectativas que agora só sinto aborrecimento, O sudeste asiático não estava nos planos originais e apareceu como um plano B para falhas que tive na estruturação da viagem. Tailândia, Vietname, Indonésia, Malásia… estes são os destinos favoritos da maioria dos jovens da minha geração que quer pôr a mochila às costas e desbravar o Mundo. E a verdade é que tudo é bem bonito e tudo está já tão bem estruturado que se torna “fácil” viajar por aqui. E esse é o meu problema…


Perdi a pica! Já fiz o voluntariado com quem queria, já conheci algumas das empresas que tinha em vista, já fiz pesquisa sobre a gestão ambiental dos países por onde vou passando, já andei dias e dias a comida de rua, já fiz os típicos amigos de hostel, couchsurfing, e todos os outros que se vão cruzando, já vi os pôr-do-sol mais bonitos do mundo, já sei que me deixo adormecer sempre que quero ver o nascer-do-sol, já vi as cascatas mais espetaculares, os templos mais exuberantes, as montanhas mais altas, já andei em comboios de 30 horas, já recebi amigos tugas, já fui a prisões, já andei à boleia horas sem fim, já vivi com a família de um refugiado… sei lá, já vivi tantas versões de mim, já me levei a tantos limites, já passei tantas horas a refletir que chegou a um ponto que perdi “o deslumbramento”.


E o que chateia mais? Continuo a sentir que ainda não é altura de voltar. Tenho saudades dos dramas diários indianos, dos transportes do Nepal e das bofetadas de realidade do Bangladesh ou do Camboja. Tenho saudades… mas também não era aí que queria estar agora. Quero ter a “novidade” de volta, de me sentir desafiado novamente. Quero voltar a ter a sensação de sair do avião e sentir um “choque cultural”. Não quero ir a uma nova cidade e fazer um “check” em todas as atrações turísticas… quero ir a uma nova cidade e sentir… “desta é que eu não estava à espera”.


E chegado ao dia 152 o que sinto é aborrecimento. Talvez seja por estar nestes destinos “mais fáceis”. Talvez seja porque já se passaram 5 meses. Talvez seja porque sinto falta de uma rotina, de rigor. Talvez seja por nunca saber onde vou estar no dia a seguir. E, no fim de contas, talvez seja esta a novidade – o aborrecimento.


“O que é que mudou em ti?” – talvez nunca venha mesmo a ter resposta. Já me desafiei a muitos níveis para saber que me conheço melhor. Concretamente… não sei. Por agora, vou combatendo esta incerteza aliada ao aborrecimento com a escrita – estou a guardar recordações de tudo o que me aconteceu, principalmente de bom, em todos os países que já estive. Talvez resulte. Talvez chegue a mais conclusões. Talvez…



Foto: Gonçalo Pinto, Nepal

 
 
 

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